A antiga primeira-ministra britânica mudou a face do Reino Unido. Morreu aos 87 anos, na sequência de um acidente vascular cerebral.
Margaret Thatcher foi a primeira (e única) primeira-ministra da velha Albion, quando a presença de mulheres no cargo era ainda um facto estranho – só não foi pioneira porque antes dela houve “gigantes” como Indira Ghandi e Golda Meir.
Quando abandonou o Governo, em 1990, tinha invertido o ciclo de declínio do Reino Unido (com um PIB que era, em 1979, 30% inferior ao da França) e o “homem doente da Europa” transformara-se numa economia liberal em crescimento. Um país próspero, mas também muito desigual – o caminho estava preparado para a chegada de Tony Blair, um primeiro-ministro radicalmente diferente no estilo, mas que abraçou o mercado livre que herdou dela
Eleita com o slogan “o socialismo não funciona”, mal chega a Downing Street põe em marcha a sua “revolução conservadora”, que tinha como pilares a redução da despesa e do peso do Estado na economia, a privatização de indústrias e serviços, o controlo da inflação. Um tratamento de choque que acelera a recessão e aumenta o desemprego, mas Thatcher fortalece a sua base de apoio com o fomento do “capitalismo popular”, incentivando os britânicos a comprar as casas arrendadas em que viviam ou a adquirir acções das empresas privatizadas.
A recessão põe em risco a sua reeleição, mas então subitamente em Abril de 1982 a Argentina invade as Falklands, ilhas a que chama Malvinas e que reclama como suas. Sem hesitar, a primeira-ministra envia as forças para a zona e após sangrentos combates as tropas britânicas recuperam o controlo das ilhas, dando um inigualável trunfo a Thatcher, que, no ano seguinte, é reeleita por esmagadora maioria
Na política externa, é aliada incondicional dos Estados Unidos e tem em Ronald Reagan o seu modelo. Os analistas dizem que os dois líderes, que chegaram ao poder com 18 meses de diferença, eram almas gémeas – ele garantia que ela era “o melhor homem de Inglaterra”; ela falava dele como o “segundo homem mais importante da minha vida”. Formaram uma aliança inquebrável contra uma ex-URSS em declínio (foram os soviéticos quem lhe colocou a alcunha que tanto lhe agradou), que só aceitou dialogar quando Mikhail Gorbachev assumiu o poder em Moscovo.
Mais complicadas foram as suas relações com a Europa – “esse continente de onde só vieram problemas”, diria. Adepta do mercado único, opõe-se ferozmente às iniciativas de integração política, tornando-se a primeira dos eurocépticos.
Seria, ironicamente, a questão europeia a precipitar a sua queda, em 1990, três anos depois de ser reeleita pela segunda vez e quando estava no auge do poder. A construção europeia, tornada mais urgente pela queda do Muro de Berlim, divide os conservadores e leva o partido a questionar a liderança de Thatcher. A votação acontece quando a primeira-ministra está em Paris e de regresso a Londres percebe que todos a desertaram. Sem alternativas, demite-se.
Quando escreveu o último livro, o seu retrato acabava de ser mudado da sala dos contemporâneos para a dos históricos na National Portrait Gallery. Thatcher não mostrava ressentimento: “É justo, já se passaram onze anos desde que deixei o n.º 10. Como se diz, o mundo avançou, sob todos os aspectos.” Um mundo que ela ajudou a mudar.
“Somos todos filhos de Thatcher”, escrevia o conservador Daily Telegraph. Conclusão partilhada pelo jornal Guardian (centro-esquerda), para o qual “o Reino Unido está mais thatcheriano do que nos anos de 1980”.
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